Como ser isentão na disputa entre Taiwan e China?

Dependendo de como forem abordadas, as questões envolvendo a República Popular da China e a República da China (ou Taiwan) podem ferir as suscetibilidades de ambas as partes. E Apesar da tolerância especial que maioria dos envolvidos têm no tratamento do assunto com os amigos ocidentais, é importante que se tenha consciência da sensibilidade do tema; do contrário, você corre o risco de ser atormentado por textões verbais. 

No entanto, se a sua intenção não é evitar a discussão, você também tem a liberdade de partir para a "ignorância". Mas não diga que fui eu quem ensinei :)

Dicas para ser um sino-isentão:

1. Quando estiver conversando com um chinês, geralmente é aceitável que se refira a Taiwan com o termo 台湾 (Táiwān), pois do fato de um local ter o próprio nome não se deduz imediatamente que se trata de um país independente. Se o seu interlocutor for muito sensível, você pode usar o termo 台湾地区 (Táiwān dìqū), que significa "distrito de Taiwan".

2. Se o seu interlocutor for de Taiwan, você também pode se referir a Taiwan como 台湾 (Táiwān); mas, se ele for um interlocutor sensível, tome cuidado para não chamá-lo de 中国人 (Zhōngguó rén). Por segurança, refira-se a ele com o termo 台湾人 (Táiwān rén).

3. Outro termo de relativa isentabilidade é 中国大陆 (Zhōngguó dàlù), que é usado para designar a China Continental. É um termo que, no entanto, acaba agradando mais aos chineses (da China) do que aos taiwaneses (da China, de Taiwan?): se há uma "China Continental", a existência de uma "China Insular" fica como pressuposto.

4. Cuidado com as palavras 国家 (Guójiā) e 人民 (Rénmín), que significam, respectivamente, "país" e "povo".

5. Se você deixar escapar alguma coisa, faça-se de desentendido; diga que é apenas um "rapaz latino-americano sem dinheiro no bolso" e mude o tema do assunto para futebol ou olimpíadas.

Entenda o conflito entre China e Taiwan

A questão de Taiwan teve origem com a vitória da Revolução Chinesa em 1949, a derrubada do governo de Chiang Kai-shek e a instauração do governo socialista de Mao-Tsé Tung. Chiang Kai-shek, que passou a governar a China oficialmente em 1927, refugiou-se com seu Estado Maior e cerca de 2 milhões de chineses na ilha de Taiwan (também chamada de Formosa), situada a 130 km do litoral da parte continental da China e separada desta pelo estreito de mesmo nome. 



A partir desse período, a China seguiu dividida em duas: República Popular da China (a parte continental) e a República da China (parte insular), as quais representavam os dois lados em disputa na Guerra Fria. A China Popular aliou-se à URSS até 1960 e depois seguiu seu próprio caminho; a República da China, em contrapartida, aliou-se aos Estados Unidos.

Desde então, as duas Chinas vivem numa situação de disputa, tendo ocorrido, inclusive, conflitos armados nos primeiros anos de sua divisão. Desde o início do conflito, Taiwan buscou assegurar a sua independência através do estreitamento das relações com os Estados Unidos. Em 1954, os dois países assinaram um acordo de defesa mútua, após o intenso bombardeio do estreito de Formosa pela República Popular da China, nesse mesmo ano.

Ganhos e perdas de Taiwan


Desde a década de 1970, Taiwan tem se destacado no cenário econômico mundial pelo desempenho invejável de sua economia. Formava, ao lado de outros três países do Pacífico - Coréia do Sul, Hong Kong e Cingapura - o bloco dos primeiros "tigres asiáticos", assim chamados por terem dado um salto no desempenho econômico, com taxas de crescimento excepcionais, além de uma política agressiva de disputa no mercado externo. Os taiwaneses conquistaram padrões de vida bem próximos aos dos países desenvolvidos, contrastando com a dura realidade vivida pela população da China continental.

Do ponto de vista geopolítico, contudo, Taiwan acumulava derrotas. Em 1971 foi substituída pela República Popular da China na ONU e, em 1979, os Estados Unidos transferiram a sua embaixada de Taipé (capital de Taiwan) para Pequim (capital da China Popular), devido ao restabelecimento de relações diplomáticas com o país comunista. Nesse mesmo ano, os Estados Unidos anularam o Tratado da Defesa que mantinham com a ilha e desativaram a sua base militar. Apesar disso, o governo de Taiwan continuou contando com o compromisso informal de apoio e proteção militar norte-americana.

Nação ou província chinesa?


Chinag Kai-Shek, líder do Partido Nacionalista (Kuomintang), governou Taiwan até 1975, com poderes ditatoriais. Mesmo após a sua morte, nesse mesmo ano, a ilha continuou a ser controlada pelo Kuomintang. Somente na década de 1990 o país passou por um processo de democratização, abrindo espaço para outras agremiações políticas. 


Taiwan tem governo próprio, eleito democraticamente, instituições independentes, moeda nacional, forças armadas, participa ativamente do comércio internacional e é membro da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico). Para efeitos práticos, é um Estado soberano, apesar disso não é reconhecido pela ONU e pelas principais organizações internacionais. Mantém relações diplomáticas com 26 países apenas.

A China Popular considera Taiwan uma província rebelde, uma parte inalienável do seu território. Nos últimos anos, tem se empenhado ostensivamente no projeto de reunificação, inclusive insinuando a possibilidade do uso da força, caso seja necessário. Desde a década de 1990, tem realizado manobras militares no estreito de Taiwan, no sentido de reforçar a sua disposição de impedir qualquer tentativa de independência.


Um país, dois sistemas


Em busca de uma solução pacífica, contudo, Pequim propõe o conceito de "um país, dois sistemas": o socialista no continente e o capitalista em Taiwan. Em tese, isso permitiria a Taiwan adotar as suas políticas econômicas e manter as suas instituições, com relativa autonomia.

Taiwan conta, ainda, com o apoio dos Estados Unidos que consideram a ilha estratégica para sua influência na região da Ásia-Pacífico. Além disso, é determinação do Congresso norte-americano defender a ilha de qualquer ameaça militar externa.

Lei Anti-Secessão


Em março de 2005, um novo agravante tem colocado em risco as delicadas relações entre as duas Chinas. A Assembléia Nacional Popular, parlamento da China Continental, aprovou uma lei anti-secessão. Essa lei autoriza o uso da força contra Taiwan, caso esta declare a sua independência formal.
A iniciativa reforça as hostilidades entre os dois governos e coloca os Estados Unidos em situação delicada. Não está nos planos dos americanos um conflito direto com a China, que, por outro lado, não deverão ficar impassíveis caso a China invada Taiwan e busque a reunificação por meios bélicos.

Adaptado de UOL Educação.



Entenda mais no vídeo abaixo:

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