9 filmes para entender os protestos de Hong Kong

Nos últimos meses, Hong Kong tem sido abalada por uma série de protestos e violência crescente que começaram como uma resposta à tentativa do governo local de aprovar uma lei de extradição de condenados da justiça à China continental para julgamento. Os temas que estão surgindo nas manifestações, como a desigualdade social, as relações entre Hong Kong e China e a violência de gangues são temas centrais do cinema local há muito tempo. O que começou como a reação a uma lei específica, está liberando forças profundamente enraizadas na cultura de Hong Kong, fazendo com que os filmes pareçam cada vez mais reais.


Recentemente, dezenas de homens vestidos de branco, provavelmente ligados às máfias locais, atacaram passageiros de um trem que voltavam de protestos, cena que fez muitas pessoas lembrarem de um famoso filme a respeito de gângsters. No cinema, há também profecias sobre um futuro distópico em Hong Kong no qual a cidade é engolida pelo comunismo chinês.

Listei 9 filmes que tratam de diversos problemas atuais em Hong Kong, como o medo de ser engolido pela China, a influência da máfia, a decadência da cidade e a luta dos trabalhadores locais num mercado cada vez mais competitivo.

De Pequim Com Amor (1994)



Esta comédia conta a história de um espião enviado da China continental para Hong Kong em uma missão, uma paródia da franquia de James Bond. É um clássico de um estilo local de comédia pastelão conhecido como Mo lei tau (无厘头;  wúlítóu). O filme é estrelado por Stephen Chow como um açougueiro que também é um agente chinês chamado 007. O enredo ridiculariza as enormes diferenças culturais entre a China continental e Hong Kong na época, como a maneira depreciativa como os ricos cidadãos da então colônia britânica olhavam para seus vizinhos do outro lado da fronteira. O filme também critica a China por meio da exploração de temas como o governo autocrático e a corrupção, preocupações que já se abatiam sobre Hong Kong após a repressão da Praça Tiananmen em 1989.


Tais críticas raramente são vistas na indústria cinematográfica de Hong Kong de hoje devido à influência do mercado chinês, com muitos cineastas e atores locais voltando o olhar para o norte - enquanto a crescente riqueza do continente chinês faz com que muitas das antigas piadas sobre a pobreza chinesa perdessem a graça. “Essa foi a era de ouro do filme de Hong Kong, quando a nossa indústria cinematográfica não dependia do mercado do continente”, escreveu uma famosa publicação de Hong Kong. Chow, por exemplo, agora concentra-se principalmente filmes para o público chinês e até ganhou certa influência política na China.

Made in Hong Kong (1997)



Lançado meses depois do retorno da cidade ao domínio chinês, Made in Hong Kong, dirigido por Fruit Chan, explora os sentimentos de desilusão e pessimismo que envolveram a cidade nessa nova era. O filme indie de baixo orçamento e ousado mostra as vidas de um grupo de jovens de Hong Kong. O personagem principal é um membro da tríade que abandonou a escola e se afastou da própria família, juntando-se a uma garota com uma doença terminal. As vidas desses jovens mudam drasticamente quando se deparam com o suicídio de um colega. A história se passa em um dos conjuntos habitacionais da cidade, onde a maioria da população ainda vive hoje em dia, em micro-apartamentos - ampliando os sentimentos de sufocamento e desânimo.


Made in Hong Kong foi relançado em seu vigésimo aniversário em alta definição. O filme é um lembrete de que duas décadas já se passaram desde a transferência da soberania do Império Britânico para a China. Nesses anos, os mesmos sentimentos de tristeza e desilusão não só não se dissiparam, mas se tornaram mais fortes. "É uma obra de alegoria política que levanta as mesmas questões dos jovens de Hong Kong de hoje, e as conseqüências são tão devastadoras", disse Jenny Suen, uma diretora de Hong Kong.

Eleição (2005)



Após ataques de uma turba de bandidos vestidos de branco em uma estação de trem no subúrbio norte de Hong Kong em 21 de julho desse ano, o tema da influência da máfia na cidade veio à tona com força total. Muitos também estão perguntando como é possível que a polícia não tenha chegado a tempo de evitar que esses homens espancassem as pessoas, mesmo dentro do metro.

O chefe de polícia de Hong Kong negou veementemente qualquer sugestão de que houvesse qualquer acordo entre as forças de segurança e as gangues criminosas, mas é improvável que a explicação da polícia  ponha fim a teorias antigas de que um conluio com a máfia existe há muito tempo na cidade. Da infinidade de filmes sobre máfias em Hong Kong, poucos exploram as relações entre as forças oficiais e bandidos como Election, dirigido por Johnny To.

O filme, que em cantonês se traduz como "sociedade negra", termo local comumente usado para designar tríades, gira em torno de uma gangues que se prepara para eleger seu novo chefe, explorando também as maneiras pelas quais a polícia lida com as conseqüências inevitáveis ​​da luta pelo poder nas máfias. Em um exemplo da vida real, a luta pela liderança de uma gangue em 2013 foi acompanhada por uma série de incidentes violentos, com a polícia invadindo empresas ligadas ao grupo criminoso.


Dez anos (2015)



Ten Years explora vários cenários diferentes do domínio chinês em Hong Kong nos próximos 10 anos. Muitos relatam que o filme distópico choca pelas assustadoras semelhanças com a vida real, com Pequim apertando o controle sobre todos os aspectos da cidade, fazendo com que muitos cidadãos se sintam particularmente perdidos com o desfecho da Revolução do Guarda-Chuva em 2014. A coleção de histórias em Ten Years inclui uma que imagina o mandarim como língua obrigatória para residentes de Hong Kong.


O filme com pouca verba de marketing foi um sucesso inesperado, mas apenas dois meses depois de seu lançamento, o filme já não estava mais sendo exibido em nenhuma sala de cinema de Hong Kong, deixando muitas questões sobre censura no ar. Ainda assim, em oito fins de semana corridos, o filme faturou quase US $ 7 milhões, mais de 10 vezes o que custou. Ganhou também o prêmio de melhor filme no Hong Kong Film Awards, o que impulsionou um sucesso global. O governo de Hong Kong, no entanto, não reconheceu o sucesso do filme indie. Quando o filme foi exibido em um festival de cinema em Nova York em 2016, o governo da cidade deixou de mencionar o título em um comunicado oficial à imprensa.

Hong Kong: Estrela da China - Documentário 


Raios laser disparam para o céu, prolongando os ângulos dos arranha-céus em neon. Sobre a baía, as velas pesadas de uma embarcação refletem as cores brilhantes, enquanto raios de luz brilham nas margens. No documentário, Pierre Brouwers nos encanta com o poder de suas imagens e a paixão com que ele explora uma cidade cuja ambição é ser a referência da Ásia oriental.


Joshua: Adolescente vs. Superpotência



Este documentário do Netflix conta a história do ativista Joshua Wong, que ganhou proeminência depois que adolescentes criaram, em 2012, um movimento denominado "escolarismo", um dos responsáveis pela derrota da tentativa do governo de Hong Kong de introduzir uma "educação patriótica" nas escolas. Ele também desempenhou um papel fundamental nos protestos da Revolução do Guarda-Chuva de 2014, depois do qual o movimento inicial foi dissolvido e substituído pelo partido político Demosisto. Wong continua na linha de frente do movimento de resistência de Hong Kong, voltando à tona nos protestos contra a lei de extradição após ter sido liberado da prisão em junho.

A Netflix ganhou os direitos para o documentário de uma hora depois que o filme, dirigido por Joe Piscatella, estreou no festival de Sundance. Adolescente vs. Superpotência é baseado no documentário de 2014, Lessons in Dissent, que seguiu Wong e outro ativista adolescente durante seus protestos contra a educação patriótica.

The Crossing (2018)



As contradições da política que rege a relação entre Hong Kong e China - "um país, dois sistemas" se evidenciam com muita força em Shenzhen, a apenas 25 milhas de Hong Kong, capital tecnológica  no sul da China. Bai Xue, diretor de Shenzhen, explora a fronteira e as vidas dos dois lados da fronteira através das lentes de Peipei, uma das milhares de estudantes que vão diariamente do continente para Hong Kong. Como muitos chineses do continente, ela tem aspirações de ganhar a vida em Hong Kong, tendo seus sonhos destruídos pelos baixos salários oferecidos em uma das economias mais desiguais do mundo, o que a leva a trabalhar para uma gangue de contrabandistas de iPhone a fim de fazer um dinheiro extra.

“A maioria dos filmes chineses sobre Hong Kong tendem a mostrar a cidade como um marco invejável de vida de alta classe, ou como uma metrópole desbotada à sombra de Xangai ou Pequim. O Crossing resiste a esses clichês”, disse Cameron White, um estudante de doutorado especialista em cinema de Hong Kong na Universidade de Michigan. "Em vez disso, retrata as realidades econômicas de uma cidade lotada e desigual. A frustração é palpável - assim como nas ruas hoje".

No. 1 Chung Ying Street



Quatro jovens vidas mudaram para sempre quando se envolveram no motim de esquerda de Hong Kong em 1967; meio século depois, outros quatro enfrentam desafios semelhantes em meio ao conflito entre a China Continental e Hong Kong.

The Hong Kong Story (History of Hong Kong 1841 to 1997 )


Um excelente documentário sobre a fascinante história de Hong Kong antes do retorno à soberania chinesa em 1997. O filme foi produzido por Elaine Forsgate Marden e dirigido por Libby Halliday.



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